sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Eu empanturro-me, tu empanturras-te. Para quê acordar?


Estamos às portas de mais um Natal. Para muitos, eu incluido, a época mais bonita do ano. Discutia hoje com um colega de trabalho (Evangélico) sobre o significado do Natal e ele dizia-me que tudo estava subvertido e que o Natal era puro consumismo. E que não acreditava no Pai Natal (vejam lá...).

Para nós Cristãos, o Natal é muito importante, mas antes do Natal há o Advento, que se reveste de uma singular importância que é a preparação para o Nascimento de Jesus. E, o Advento inicia-se este Domingo.

Convidei dois grandes amigos para colaborarem com o meu Blog e escreverem algo sobre o Advento. Pedi ao Frei João, do Carmo de Viana que nos desse a sua visão de como o Advendo é encarado hoje, pela sociedade actual, e ao Frei Rui do Carmo de Aveiro que nos contextualizasse históricamente qual o verdadeiro significado que o Advento representa para a Igreja Católica.
Ambos foram muito céleres na resposta e como o Frei Rui teve a gentileza de me enviar o "draft" da homilia do próximo Domingo, achei por bem "embargar" o contéudo até lá, para não privar os fieis de a ouvirem em primeira mão pelo seu autor.
Publico então primeiro o pensamento do Frei João, muito pertinente e que certamente nos vai fazer pensar bastante e quiçá comentar. Prometo que serei um dos comentadores.

"Eu empanturro-me, tu empanturras-te. Para quê acordar?

Caro amigo, conta comigo para agitar águas, desconcertar consciências, buscar caminhos, construir pontes, erguer o olhar. Pedes-me um texto (curto) sobre o Advento e a perspectiva da nossa Igreja. Aí vai.
Premissa: o tempo foge e acaba; a coroa do tempo não é o fim mas a plenitude, sem a qual não faria sentido viver acordado.

Ora, então. Para que servirá o Advento se não para (re)partir em caminhada de forma ágil e desperta?
O tempo eclesial de Advento — pouco mais de três semanas — tem função de arauto e de alerta: o tempo chega ao fim, acorda antes que chegue! E como só um é Senhor, é Ele o Último porque foi também o Primeiro. Logo, desperta!, diz a Igreja fundada na Palavra, para ires sem medo ao Seu encontro.

Mas e porque são poucos os que ouvem o arauto? Porque são tão poucos os que se fazem ao caminho? A resposta é simples: porque a maioria dorme ou está embriagada. São palavras de Jesus: «Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados por causa da vida libertina, da embriaguez e das preocupações da vida.»

Está a chegar o Menino do Natal. A quem poderia meter medo um menino? Pois, a ninguém. Mas a maioria não saberá recebê-lo. Porque acrescentarão vinho ao vinho, whisky ao whisky e comeres aos comeres. Porque acrescentarão dias aos dias como se não houvera amanhã, nem valesse viver uma vida que não fosse para ser-se livre e fazer-se o que se quer. Porque se afogarão em preocupações ainda que justas e outras que visam o mais e maior: mais ganhos para acrescentar mais ao maior penacho que já se tem.

Celebrar e festejar também são verbos cristãos. Mas, ai de nós, quando o coração se torna pesado, opresso e angustiado porque as preocupações são uma teia tal que não vemos a aurora despontar no horizonte.

É Advento. Quem se propõe caminhar ao encontro definitivo com o Senhor deve ir ligeiro, sem pesos desnecessários que só amargam a vida e peiam a caminhada.

O Senhor vem. Encontrar-me-ei com Ele. Como O encararei: desentendido do mundo porque entorpecido e preocupado comigo, ou pastoreando o mundo levando-o ao encontro definitivo com o seu Senhor?

Advento feliz, feliz acordar."
Frei João
Superior do Convento do Carmo de Viana

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