Iniciámos neste Domingo um novo Ano Litúrgico, que logo no princípio nos oferece este tempo forte de Advento, como tempo de preparação para a Solenidade do Natal.
A primeira referência ao “Advento” encontramo-la em Espanha, quando no ano 380, o Sínodo de Saragoça prescreveu uma preparação de três semanas para a Epifania, dia em que, antigamente, também se celebrava o Natal. Na França, o bispo de Tours, Perpétuo, instituiu seis semanas de preparação para o Natal e, em Roma, o Sacramentário Gelasiano, em fianis do século V, já fala do Advento
Na sua origem, quer em Espanha, quer na Gália (sul de França), o Advento tinha um carácter ascético com jejuns, abstinência e tinha a duração de 6 semanas tal como a Quaresma (Quaresma de S. Martinho).
Este carácter ascético para a preparação do Natal compreendia-se já que era tempo de preparação dos catecúmenos para o baptismo que iriam receber na festa da Epifania.
Somente no final do século VII, em Roma, é acrescentado ao Advento o aspecto escatológico, recordando a segunda vinda do Senhor e passou a ser celebrado durante 5 domingos. E, assim, mais tarde este tempo litúrgico passou a ser celebrado nos seus dois aspectos: a vinda definitiva do Senhor e a preparação para o Natal, pois a Igreja entendia que não podia celebrar a liturgia natalícia, sem se levar em consideração a sua essencial dimensão escatológica.
O Advento começa com as vésperas do Domingo mais próximo do dia 30 de Novembro e termina com as primeiras vésperas do Natal, dia 24 de Dezembro, compreendo, pois, quatro domingos.
O tempo do Advento é para toda a Igreja, momento de forte mergulho na liturgia e na mística cristã. É tempo de espera e esperança, de estarmos atentos e vigilantes, preparando-nos alegremente para a vinda do Senhor, como uma noiva que se enfeita e se adorna para a chegada do seu esposo.
Esse tempo possui duas características: Nas duas primeiras semanas, a nossa expectativa se volta para a segunda vinda definitiva e gloriosa de Jesus Cristo, Salvador e Senhor da História, no final dos tempos. A segunda parte do Advento, desde dia 17 até 24 de Dezembro, centra-se de uma maneira especial na preparação para a celebração do Natal, o nascimento de Jesus, na vinda do Filho de Deus ao mundo. Assim este tempo de Advento leva-nos a reflectir e meditar na primeira vinda de Jesus à terra (o Natal) e na sua última vinda (a Parusia).
A liturgia do Advento convida-nos a reviver alguns dos valores essenciais cristãos, como a alegria expectante e vigilante, a esperança, a pobreza, a conversão.
É tempo de esperança porque Deus é fiel às suas promessas: o Salvador virá; daí a alegre expectativa, que deve nesse tempo, não só ser lembrada, mas vivida, pois aquilo que se espera acontecerá com certeza.
O Advento também é um tempo propício à conversão; sem o regresso de todos a Cristo, não se pode viver a alegria e a esperança na expectativa da Sua vinda. É necessário que “preparemos o caminho do Senhor” nas nossas próprias vidas, lutando incessantemente contra o pecado, através de uma maior disposição para a oração e mergulho na Palavra.
No entanto o “Advento” não se pode resumir a um tempo litúrgico. Se o mesmo nos leva a interiorizar a palavra e a reavivar a nossa fé, no entanto, devemos tomar consciência que o Cristão deve viver sempre em estado de Advento, não tanto a preparar a celebração do Natal, ou seja a vinda de Jesus até à humanidade, no tempo da História, mas preparando-se sempre para a segunda vinda de Cristo, ou se quisermos o nosso encontro com Ele, pois como Jesus deixa bem claro, o Filho de Deus virá como um ladrão, a horas que menos espera.
Que a parábola das virgens sensatas e das virgens néscias, nos sirva de aviso, pois se não levarmos connosco azeite nas almotolias, poderá que as nossas lâmpadas estejam apagadas quando chegar o Esposo, porque, podemos ter a certeza que o “Senhor virá!”, como diz um cântico de Advento.
Frei Rui Rodrigues
Convento do Carmo de Aveiro